Durante o período escolar nos ensinaram que a origem do nome Brasil advém de certa madeira presente no litoral do país chamada "pau-brasil", da qual se pode extrair um corante vermelho. Entretanto, tanto este pigmento quanto o termo Brasil eram conhecidos bem antes da chegada dos portugueses em terras brasileiras.
O autor Bernardino José de Souza em seu livro O Pau-Brasil na história nacional (Editora Brasiliana, 1939) propõe sua hipótese sobre o conhecimento do "pau-brasil". Através de um excerto do arqueólogo e historiador português Augusto Carlos Teixeira de Aragão, da Academia Real das Ciências de Lisboa, Bernardino comenta: "O conhecimento do pau-brasil parece remontar ao século 9 pelos itinerários dos árabes El-Hacem e Abuzie, publicados por Renandot nas Antigas relações com as Índias e onde se designa com o nome persa Bakham que êle traduziu em latim Bresilium. O pau-brasil é muito parecido nas qualidades com uma planta de Samatra, donde se extrai também tinta da mesma cor. Tanto esta droga como o pau-brasil eram importados para a Europa pelos árabes, vindos do Oriente pelo mar Vermelho, e por terra atravessando o Egito. O pau-brasil tinha grande consumo, servindo principalmente para tingir de encarnado as lãs, algodões, sedas. (...) nas alfândegas de Ferrara, 1139, e nas de Módena, em 1316, aparecem notícias da droga para tingir os tecidos de encarnado, chamada na Itália Brezil, Brecilis, Bracire, Brasilly, Brazilis e Brazili."
A origem do nome Brasil é ainda mais curiosa. O termo "Hy-Brazil" já era conhecido na literatura celta e gaulesa desde o século 8 (800 d.C.) e teria sido uma ilha mitológica irlandesa representada em muitos mapas do Oceano Atlântico entre 1325 a 1865. Após este período algumas expedições da França e da Inglaterra partiram em busca desta terra, mas não obtiveram sucesso. Era crença, naquela época, que essa ilha ficava oculta dos olhos humanos pela neblina - exceto por um dia a cada sete anos, quando se tornava visível, mas ainda assim não podia ser alcançada.
O nome da ilha deriva do irlandês "Hy-Breasail" (ilha de Breasal), relacionada a Breasal, um druida e mago dos sidhe (uma palavra gaélica que se refere a pequenas colinas habitadas por espíritos da natureza).
Segundo a lenda, Breasal tentou construir uma torre até o céu. Contratou homens para trabalhar para ele e pediu auxílio de Eithne, sua irmã, por apenas um dia, mas ela resolveu lançar um feitiço para impedir o pôr do sol enquanto a obra não fosse concluída. Não concordando com a atitude da irmã, Breasal a violentou; com isso, o encanto foi quebrado e o sol se pôs. Contrariada, a irmã lançou novo feitiço, evocando a escuridão eterna naquele lugar.
Quando Breasal morreu, sua pira funerária foi deixada à deriva no oceano, que o carregou até a ilha invisível "Hy-Breasail" (imaginada como uma terra de prazer perpétuo e festejos) onde Breasal reinou sobre os heróis que perderam a vida em batalha. Esta foi uma das mais duradouras ilhas legendárias do Atlântico. Em uma das versões medievais irlandesas, a Ilha de Hy-Brazil teria sido visitada por São Brandão, um dos santos mais conhecidos da Ordem Irlandesa.
O santo navegador, que viveu entre os anos 484 e 577, teria descoberto e residido na Ilha de Hy-Brazil (também conhecida por Ilha de São Brandão, Ilhas Afortunadas ou apenas Ilha do Brasil). Seu manuscrito mais antigo data do século 10, intitulado Navigatio Sancti Brendani Abbatis ("A Navegação do Abade São Brandão"). São Brandão teria descrito estas terras como local de vegetação exuberante e animais exóticos (relato que inclusive coincide com as primeiras impressões que os navegantes europeus tiveram do Brasil).
Ao longo dos séculos os oceanos contribuíram não apenas como principal meio exploratório e mercantil, promovendo as comunicações humanas: foram, sobretudo, o palco para a habitação de diversos seres lendários, frutos da imaginação dos navegantes e exploradores, sendo inúmeras vezes alvos das especulações sobre o que existiria além-mar.
Há alguns historiadores que afirmam que o nome Brasil teria provindo do imaginário pré-cabralino e que teria sido utilizado pelos portugueses como mito geopolítico. O historiador Ronaldo Vainfas, em um pequeno verbete para o Dicionário do Brasil Colonial (Objetiva, 2000) apresenta sua visão sobre a Ilha de Hy-Brazil: "Considera-se hoje que ela nunca existiu ou foi uma formação vulcânica temporária que fumegava e produzia o citado nevoeiro, derramando lava em brasa - daí viria o nome 'brasil'."
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