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quinta-feira, fevereiro 28, 2013

VATICANO 19 DE ABRIL DE 2005 - parte 1-


Instruam todos os confidentes para que o apresentem na primeira noite de cada eleição. Que a sua leitura seja o primeiro ato de todos os herdeiros de Pedro. É de importância vital que tomem conhecimento desse segredo. Guardem-no em local secreto e não permitam que seja lido por ninguém. Qualquer quebra nesse ritual, nos próximos séculos, poderá significar o fim da nossa tão bem amada  e estimada igreja.
Clemente VII, 17 de junho de 1530
Foi por deliberação do altíssimo, e não haja hesitações quanto a isso, que o filho de Maria mudou seu nome de batismo. Ela iria gosta de vê -lo coroado Imperador da Igreja Católica  Apostólica Romana em que  tanto acreditava, descendente direto, num sentido simbólico, da linhagem de Cristo, ou talvez os mortos saibam mais que os humanos vivos, lá no Além para onde vai o pó.
O certo é que ficará gravada para todo o sempre – ou enquanto existirem memórias – a canônica nomeação do cardeal Joseph Alois Ratzinger neste dia de abril,  terminando com a Sede Vacante que vigorava desde 5 do mesmo mês.
Assim que Sodano, o vice-decano do Colégio Cardinalício, perguntou da sua aceitação, ao final da quarta votação, para o lugar que Deus selecionara, não levou um segundo para pronunciar “Aceito”. E os cinco segundos que levou para  responder “Papa Bento” `a pergunta “Por que nome deseja ser tratado?” também evidenciaram preparação preambular. Não esqueçamos que Ratzinger era o decano do Colégio, ou seja, aquele que teria de fazer essa mesmas perguntas aos eleitos, não tivesse sido ele o escolhido – ou melhor confirmado - . não deixava de ser  curioso, num aparte tão elucidativo, que noventa por cento dos memoráveis antecessores desse  Bento tenham preferido um nome divergente daquele que a mãe lhes deu.
Os fieis aglomeravam-se na Praça de São Pedro na esperança de que a fumaça fosse branca, enfuscada pela  pobre subsistência, em vez do cinzento-escuro que apareceu de fato. Poucos  dos presentes se lembravam do primeiro e do segundo conclave de 1978 em que  também aconteceu idêntico problema. Nove milhões de euros para organizar um conclave e esqueciam-se sempre de limpar a maldita chaminé da Capela Sistina. Entretanto, apos dez minutos de expectativa  e algumas desistências, os sinos da basílica troaram com frenesi como num rebate louco por socorro, alastrando sorrisos, em vez de pavor, por toda a praça e arredores.
Tínhamos Papa.
Dentro da benta capela, os irmãos Gamarelli ajeitavam as vestes papais ao corpo do novo pontífice. Não houvera qualquer surpresa dessa vez. Venceu o candidato provável. Era sempre mais fácil quando o Papa anterior deixava expressar a sua vontade. Já João XXIII o fizera quando nomeou, no seu leito de morte, o cardeal Giovanni Montini para o seu sucessor. No caso do polaco Wojtyla a decisão havia sido tomada com maior antecedência, alguns meses antes ainda que este já o viesse anunciando, particularmente, há cerca de dois anos.  Jamais deixe de fazer a ultima vontade de um moribundo, ainda mais se tratando de alguém com uma relação tão próxima com o Criador. Quem deixava a decisão nas mãos do Espírito Santo sujeitava a Igreja a supresas como as do Papa Luciani e do próprio Wojtyla, ainda que, muito provavelmente, o patriarca de Veneza tivesse grandes chances de ser nomeado por Paulo VI se ele o tivesse feito.
  Sodano não podia estar mais feliz. A sua amada igreja permaneceria em segurança. Ratzinger, pois aos amigos dispensa-se o protocolo canônico, era o homem certo para o lugar certo. Ninguém faria melhor trabalho. Esta era uma época, uma realidade.
 Luiz Miguel Rocha/ Sobek de alcantara

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