Instruam todos os
confidentes para que o apresentem na primeira noite de cada eleição. Que a sua
leitura seja o primeiro ato de todos os herdeiros de Pedro. É de importância
vital que tomem conhecimento desse segredo. Guardem-no em local secreto e não
permitam que seja lido por ninguém. Qualquer quebra nesse ritual, nos próximos
séculos, poderá significar o fim da nossa tão bem amada e estimada igreja.
Clemente VII, 17 de junho de
1530
Foi
por deliberação do altíssimo, e não haja hesitações quanto a isso, que o filho
de Maria mudou seu nome de batismo. Ela iria gosta de vê -lo coroado Imperador
da Igreja Católica Apostólica
Romana em que tanto acreditava,
descendente direto, num sentido simbólico, da linhagem de Cristo, ou talvez os
mortos saibam mais que os humanos vivos, lá no Além para onde vai o pó.
O
certo é que ficará gravada para todo o sempre – ou enquanto existirem memórias
– a canônica nomeação do cardeal Joseph Alois Ratzinger neste dia de
abril, terminando com a Sede
Vacante que vigorava desde 5 do mesmo mês.
Assim
que Sodano, o vice-decano do Colégio Cardinalício, perguntou da sua aceitação,
ao final da quarta votação, para o lugar que Deus selecionara, não levou um
segundo para pronunciar “Aceito”. E os cinco segundos que levou para responder “Papa Bento” `a pergunta “Por
que nome deseja ser tratado?” também evidenciaram preparação preambular. Não
esqueçamos que Ratzinger era o decano do Colégio, ou seja, aquele que teria de
fazer essa mesmas perguntas aos eleitos, não tivesse sido ele o escolhido – ou
melhor confirmado - . não deixava de ser
curioso, num aparte tão elucidativo, que noventa por cento dos
memoráveis antecessores desse
Bento tenham preferido um nome divergente daquele que a mãe lhes deu.
Os
fieis aglomeravam-se na Praça de São Pedro na esperança de que a fumaça fosse
branca, enfuscada pela pobre
subsistência, em vez do cinzento-escuro que apareceu de fato. Poucos dos presentes se lembravam do primeiro
e do segundo conclave de 1978 em que
também aconteceu idêntico problema. Nove milhões de euros para organizar
um conclave e esqueciam-se sempre de limpar a maldita chaminé da Capela
Sistina. Entretanto, apos dez minutos de expectativa e algumas desistências, os sinos da basílica troaram com
frenesi como num rebate louco por socorro, alastrando sorrisos, em vez de
pavor, por toda a praça e arredores.
Tínhamos
Papa.
Dentro
da benta capela, os irmãos Gamarelli ajeitavam as vestes papais ao corpo do
novo pontífice. Não houvera qualquer surpresa dessa vez. Venceu o candidato
provável. Era sempre mais fácil quando o Papa anterior deixava expressar a sua
vontade. Já João XXIII o fizera quando nomeou, no seu leito de morte, o cardeal
Giovanni Montini para o seu sucessor. No caso do polaco Wojtyla a decisão havia
sido tomada com maior antecedência, alguns meses antes ainda que este já o
viesse anunciando, particularmente, há cerca de dois anos. Jamais deixe de fazer a ultima vontade
de um moribundo, ainda mais se tratando de alguém com uma relação tão próxima
com o Criador. Quem deixava a decisão nas mãos do Espírito Santo sujeitava a
Igreja a supresas como as do Papa Luciani e do próprio Wojtyla, ainda que,
muito provavelmente, o patriarca de Veneza tivesse grandes chances de ser
nomeado por Paulo VI se ele o tivesse feito.
Sodano não podia estar mais feliz. A sua amada igreja
permaneceria em segurança. Ratzinger, pois aos amigos dispensa-se o protocolo
canônico, era o homem certo para o lugar certo. Ninguém faria melhor trabalho. Esta
era uma época, uma realidade.
Luiz Miguel Rocha/ Sobek de alcantara
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