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Somos caboclos guerreiros, descendentes da tribo de
Manaós (mãe dos deuses).
“Filhos da
terra, somos a própria terra, e quem por ela morre, em condições heróicas, não
pode ser um traidor.”
A
ocupação do Rio Negro – da embocadura `as cabeceiras – erigiu-se num
empreendimento de árduos esforços. Nações indígenas ali encontradas, numerosas
e aguerridas, recusavam qualquer aproximação com os civilizados e tinham as
suas razões, os invazores os tratavam como animais iracionais, suas famílias
eram abusadas e depois exterminadas, caso ouvesse qualquer reação contraria.
Dentre essas nações, a dos Aruaques, a que pertenciam os Manaus. Estes
ocupantes da extensa área que ia do Uarira até `a ponta inferior da ilha de
Timoní, fronteira `a barra do Xinaré.
Exerciam
tais aborígenes domínio absoluto sobre as demais tribos. Dominavam-nas e, em caso de resistências, eliminavam-nas
de totalmente. Assim ocorreu, por exemplo, com os Cararaís, inteiramente dizimados.
Duros os entreveros com os Barés,
que, salvos pela catequese,
prestaram excelente colaboração entrosados aos Banibas e Pacés, no
desenvolvimento do povoado da Barra, dezenas de anos mais tarde transformado em
Manaus.
Naqueles
idos, distinguiam-se os Manaus ainda pela pugnacidade com que defendiam a Terra
Mater e por outras características de indiscutível importância. Alem de
exóticos hábitos, tinham uma linguagem própria, com ampla divulgação por todo o
Vale. Do ponto de vista religioso, admitiam Mauari, o deus do bem, e Sarauá, o
deus do mal. Não ficou provado, pelas pesquisas efetuadas, se adotavam a
antropofagia.
O
ódio dos silvícolas aos brancos originara-se dos meios que aqueles empregavam
para prende-los, assim as tropas de resgate como as tropas de guerra. As
primeiras fazendo Descimento (descimentos na Amazônia eram expedições
militares que tinha por objetivo convencer os índios a viverem mais perto das
colônias afim de serem catequizados. Essas expedições era composta de
missionários que ao convencer os índios a viverem mais perto dos núcleos
coloniais "estocava" o índio, fazendo-lhes prestar serviços ao
colonizadores.)de cambulhada(cambulhada: confusão, desordem, quantidade de cambulho.), rumo a Belém, para o trabalho escravo
na terra, ou para outras atividades, mas sempre na condição de escravos. As
segundas adotando processo muito mais forte e destruidor durante e apos os
combates com os nativos. Muitos antes de morrer viam as suas companheiras e
filhas sendo abusadas pelos selvagens invasores “do continente civilizados”.
A
escravização, como era feita, só podia suscitar reações inconseqüentes.
Bárbaros saídos das selvas, habituados ao trabalho sem normas rígidas – e donos
sobretudo do próprio destino, livres como os animais daquela grande região – jamais poderiam
compreender porque eram confinados em redutos, sob a vigilância exclusiva de feitores – feitores: Há varias funções entre ela punir e capturar escravos rebeldes e
fujões – indivíduos maus, sem escrúpulos, perversos. Parte da quadrilha de
salteadores invasores que não respeitaram ninguém, esta é a verdade.
Estava faltando, como depois ficou reconhecido, a presença a presença dos apóstolos de Cristo, que
civilizavam por meios brandos.
Alcançou
notoriedade, todavia, pela singularidade de que se revestiu, o romance de
Guilherme Valente, sargento do Forte da Barra de São José do Rio Negro – hoje
Manaus –, com a encantadora índia filha do tuxaua – chefe da tribo – do índios
Manaus. Com essa aproximação, sem dúvida providencial, numerosos selvagens
chegaram a ser localizados num povoado `a boca do Rio Caborí, sob a proteção
espiritual dos padres carmelitas.
Tais
religiosos, chegados `a Amazônia em 1695, prestaram assinalados serviços `a
causa lusitana. Avultados números de núcleos populacionais foram por eles
fundados. Em contatos com os gentios, tudo fizeram para corresponder `a
confiança neles depositadas.
Aconteceu,
porem, que, enquanto os
evangelizadores procuravam pacificar, escalões de idiotas, malfeitores
oportunistas e gananciosos por fazer fortunas com a prisão desses homens
livres; percorriam as margens banhadas pelo Rio Negro até `as cabeceiras na
perseguição desses livres homens nativos. Inutilizaram assim, a trabalho da
catequese.
Ciente
de tais desacertos, o próprio monarca, na metrópole, achou conveniente
recomendar ao governador do Pará. Cristovão da Costa Freire, no sentido de que enveredasse por outros
caminhos, em proveito do Estado e da gentilidade – gentilidade: Povos
gentios, religião dos gentios; paganismo –.
Exatamente
nesse período surgiu, no vasto palco hinterlandino, o vulto a todos os títulos
carismático de AJURICABA, ( robusto, forte e corajoso), e em derredor do qual
se aglutinaram, para a maior Confederação Ameríndia da Amazônia, as principais
tribos da região, prontas para o sacrifício supremo, qual o de assegurar a
liberdade de quantos ali vieram ao mundo.
Ajuricaba,
para o desempenho da tarefa emancipadora, nascera um predestinado. Filho de Huiuiebéue e neto de Caboquena
– ambos Tuxauas de ímpetos guerreiros – era, na qualidade de coordenador das
tribos aliançadas, o homem talhado para aquele movimento culminante. Destemido
e inteligente, ninguém melhor para pôr em ação as hordas rebelionárias. A
origem do antropônimo, do ponto de vista etimológico, talvez tenha propiciado o
vigor ao personagem, segundo Adauto Fernandes, IN <<ARAPIXÍ>>:
AJURICABA, de AIURI e CAUA (ou caba, vernaculizado), significando <<UM SÓ
QUE VALE POR MUITOS HOMENS>>.
Compenetrado
dessa inexorável determinação – líder incontestado de seus irmãos de gleba –
arremetia, resoluto, contra os invasores todo o poder de que dispunha. Odiava
os brancos desde CURUMIM – quer dizer criança – quando assistiu ao massacre de
seus irmãos adultos incluindo o próprio avo o Tuxaua Caboquena, que veio a
perder a vida nas lutas em sua própria aldeia. Nunca ouve por parte dos políticos da Amazônia uma
solicitação de pedido de desculpa ou perdão por essas barbaridades com os
nativos do grande Vale Verde.
Era
assim Ajuricaba, temido pelos homens brancos – invasores – e querido pelas
mulheres dos Tucanos e dos Bares. Um dia, porem, quando houve por bem escolher
a companheira dileta, foi buscar a mais bela CUNHÃ dos Tariás,
famosos pela combatividade.
Nas
três primeiras décadas do século XIII, segundo as crônicas, permaneceu `a testa
de seus bravos, opondo sérios entraves `a conquista portuguesa. Pelo que
veicularam testemunhas daqueles longevos os assaltos que eram feitos em
condições esmagadoras. Eis o pronunciamento de Arthur Cezar Ferreira Reis:
<<Correndo a grande artéria (o Rio Negro), entrando pelos lagos, furos,
Paranás e afluentes, correndo o Vale do Rio Branco, ia levando a destruição até
a aldeamentos de ameríndios, quando os sabia aliados dos portugueses.
Castigando esses nativos, escravizava-os, incendiava-lhes os povoados,
assinalando-se em sangue e fogo. Noutras ocasiões entrincheirava-se em
estacadas de pau-a-pique, a modo das fortificações dos conquistadores, desafiando-os, certo de que não seria
atacado, o que de fato jamais ocorreu, dado o ardor por que se batia>>.
Contra
ele levantou-se, em 1723, o governador Maia da Gama, do Pará, solicitando a
metrópole permissão para enfrentá-lo com a <<A GUERRA JUSTA>>
PORQUE NAO DIZER COVAR?. Criando
mentiras o que era muito comum entre os invasores que retornavam a metrópole,
como vamos ver adiante. Por isso, alem de outras razões, sustentou que
Ajuricaba se tornara aliado dos homens do Suriname –aqui pode se ver hoje que
era extremamente impossível esta aproximação devido a grande distancia
geográfica que ficava e a preocupação de Ajuricaba era a sua periferia no
coração da selva. Isto para a metrópole não fazia muita diferença pois nada por
lá sabiam como se vivia na selva, e nunca souberam o que era distancia e
dificuldade em sobreviver por essas novas terras. Segundo as calunias uma era
muito forte a de que os homens do Suriname forneciam armas e munições para ele.
Tamanha a afinidade, por parte do nativo rebelde, que sua frota de igarités –
canoas – ostentava, desfraldada a bandeira holandesa. Ai uma forte calunia para
que assim fosse convencido o incrédulo monarca da época.
Com
o objetivo, pois, de impedir semelhante aliança – visivelmente atentatória aos
“direitos” de Portugal – teve origem em Belém, em caráter de emergência, a
Expedição Belchior Mendes de Morais.
Na
corte, quando chegou a noticia
dessa reação bélica, houve logo uma preocupação de providencias menos
violentas. Conquanto estivessem em jogo os interesses da coroa, aconselhável
será apurar melhor os acontecimentos, o que na verdade nunca não ocorreu.
Num
segundo apelo, em 1724, Maia da Gama um
tirano cuidou de sensibilizar astuciosamente o soberano, que, afinal, ao
tomar conhecimento do assunto, achou oportuna a interferência de missionários.
Dai
a presença, entre os guerreiros de Ajuricaba, do padre Manuel Sousa. Este, por
meios hábeis, alcançou êxito em sua tarefa. Conseguiu, por exemplo, o resgate
de 50 prisioneiros, informando ainda ao governador Maia da Gama a propósito de
entendimentos até então obtidos.
Estava
a obra pacificadora colocada
nesses termos, quando grave denúncia veio `a baila, e chegou ao conhecimento
daquele governante. Denúncia atribuída aos carmelitas.
Diante
de semelhante ocorrência, cuja origem não podia ser subestimada, houve imediata
convocação do Conselho das Missões, que, após longos debates, resolveu dar
pleno assentimento ao governador Maia da Gama. Só apareceu em plenário um voto
discordante: o do diretor do colégio dos jesuítas. Conclui-se aqui, que os
Carmelitas com inveja do poder de persuasão e sentido-se prestes a perderem o
controle para os jesuítas instigaram e criaram tal situação via calunias e
mentiras, muito comum `a aquela gente “civilizada” que invadiam os continentes
das Américas. Resultado da ganância e da posse.
Surgiu
assim, desse pronunciamento, a Expedição da morte custasse o que custasse do
guerreiro Ajuricaba, sob o comando de João Paes do Amaral, para combater os
“rebeldes” do Rio Negro. Essa tropa recebeu, ao chegar ao teatro dos
acontecimentos, a colaboração de Belchior Mendes de Morais.
Consoante
o plano estabelecido, entraram em ação
as forças beligerantes. Ao que informa Arthur Reis, <<ouve choque
violento. De parte a parte muito heroísmo. Os portugueses, a certa altura,
depois de batidos quatro em investidas, já principiavam a desanimar quando
alguns soldados, completando o cerco, atacaram Ajuricaba pela retaguarda,
conseguindo vencê-los>>. Adianta a narrativa que nessa ocasião,
Ajuricaba, perdendo o filho, tão bravo quanto ele, o jovem Cucunaca, lançou-se
entre os inimigos, infligindo lhes várias
perdas, sendo afinal preso e posto a ferros.
Em
decorrência do insucesso no da sua luta, viu-se Ajuricaba jogado ao chão de um
barco que o levaria a Belém no Estado do Pará, onde seria “julgado”. Julgamento
parcial e afrontoso, com a chancela de traidor. Todo invasor, todos os déspotas
usam dessa artimanha e de tudo que possa menosprezar os dominados, neste caso
os invasores queriam por todos os
meios o domínio total e a submissão de homes livres, que se sujeitassem `as
vontades como seres superiores que ali assaltavam um território livre em todos
os sentidos. Esta é a maior virtude de todos os idiotas dominadores, a
opressão.
Em
caminho, pois – depõe Agnello Bittencourt, com a austeridade que todos lhe
reconheciam – antes de chegar `a
embocadura do Rio Negro, tentou liberta-se e aos seus companheiros. Sublevou,
mesmo em grilhões, a gentilidade das embarcações, ameaçando seriamente as
tropas de Pais do Amaral e Belchior Mendes de Morais.
Infelizmente
dominado o levante, depois de muito sangue derramado, para não se sujeitar `as
humilhações do inimigo vitorioso, lançou-se com outros parceiros `as águas do
oceano fluvial que tanto amava, perecendo afogado, para a grande satisfação dos conquistadores,
agora livres de vez das preocupações de tê-lo sob a mais rigorosa vigilância em
quase um mês de viagem até Belém no Pará. Bem aqui poderíamos dizer que a
historia não foi assim. Os sanguinários conquistadores e sobre tudo mentirosos,
pois anteriormente para provocar a luta para dominar Ajuricaba, eles
convenceram o governo provincial a mandar mentiras para a corte, inflamaram carmelitas
contra jesuítas. Não seria interessante, terem Ajuricaba sob as suas custodias,
pois poderia ser liberto novamente, então o mais certo foi o que fizeram, ao
terem dominado e para que todos os povos ali submisso, por eles invasores sentisse o seu poder e a sua força, colocaram
todas as tribos que sob sua custódia se encontravam `a margem do caudaloso Rio Negro o atiraram - Ajuricaba - acorrentado ao meio do
rio e assim era o fim para todos os povos indígenas ali presentes, o fim das
suas lutas de homens livres que eram.
Hoje
decorrido muitos anos de sua morte cheia de tenacidade, Ajuricaba comparece
perante a historia com as mesmas prerrogativas de heroísmo de um Zorobobé, de
um Jacaúna, de Jaguaribe, de um Tibiriçá ou de um Arariboia. No cenário indígena das terras
hoje chamada de Brasil.
Quem
o alçapremou (Alavanca para levantar grandes pesos. Tenaz),
porem, ao galarins (galarim: s.m. Cúmulo, fastígio, o ponto mais alto; opulência, grandeza.)da
fama, foi o ínclito patrício Joaquim Nabuco, ao escrever a obra monumental que
é o << O DIREITO DO BRASIL>>, extirpando por completo o labéu com
que o envolveu Ribeiro Sampaio - <<mal informado ou tendencioso>>,
no conceito de Agnello Bittencourt – para colocá-lo, triunfante, entre os
protomártires da liberdade em sua terra: o Amazonas. Filhos da terra, somos a própria terra, e quem por ela morre, em
condições heróicas, não pode ser um traidor.
Verdadeiramente
consagradoras, assim, as homenagens que já estão sendo tributadas ao vulto
tutelar, como a de Eduardo
Tourinho, IN <<ESSE CONTINENTE CHAMADO BRASIL>>, em capitulo que
assim se termina:<<Tal
Cunhambebe no Rio de Janeiro, a tradição de bravura dos aborígenes
amazonenses teve como epigono (refere-se aquele pensador,
cientista, artista, etc,) o grande bárbaro Ajuricaba, principal que foi
entre os Manaus do Rio Negro>>.
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