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segunda-feira, outubro 22, 2012

Amazonia - Epopéia de Ajuricaba -

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Somos caboclos guerreiros, descendentes da tribo de Manaós (mãe dos deuses).
“Filhos da terra, somos a própria terra, e quem por ela morre, em condições heróicas, não pode ser um traidor.”
A ocupação do Rio Negro – da embocadura `as cabeceiras – erigiu-se num empreendimento de árduos esforços. Nações indígenas ali encontradas, numerosas e aguerridas, recusavam qualquer aproximação com os civilizados e tinham as suas razões, os invazores os tratavam como animais iracionais, suas famílias eram abusadas e depois exterminadas, caso ouvesse qualquer reação contraria. Dentre essas nações, a dos Aruaques, a que pertenciam os Manaus. Estes ocupantes da extensa área que ia do Uarira até `a ponta inferior da ilha de Timoní, fronteira `a barra do Xinaré.
Exerciam tais aborígenes domínio absoluto sobre as demais tribos. Dominavam-nas e,  em caso de resistências, eliminavam-nas de totalmente. Assim ocorreu, por exemplo, com os Cararaís, inteiramente dizimados. Duros os entreveros com os Barés,  que,  salvos pela catequese, prestaram excelente colaboração entrosados aos Banibas e Pacés, no desenvolvimento do povoado da Barra, dezenas de anos mais tarde transformado em Manaus.
Naqueles idos, distinguiam-se os Manaus ainda pela pugnacidade com que defendiam a Terra Mater e por outras características de indiscutível importância. Alem de exóticos hábitos, tinham uma linguagem própria, com ampla divulgação por todo o Vale. Do ponto de vista religioso, admitiam Mauari, o deus do bem, e Sarauá, o deus do mal. Não ficou provado, pelas pesquisas efetuadas, se adotavam a antropofagia.
O ódio dos silvícolas aos brancos originara-se dos meios que aqueles empregavam para prende-los, assim as tropas de resgate como as tropas de guerra. As primeiras fazendo  Descimento (descimentos na Amazônia eram expedições militares que tinha por objetivo convencer os índios a viverem mais perto das colônias afim de serem catequizados. Essas expedições era composta de missionários que ao convencer os índios a viverem mais perto dos núcleos coloniais "estocava" o índio, fazendo-lhes prestar serviços ao colonizadores.)de cambulhada(cambulhada: confusão, desordem, quantidade de cambulho.),  rumo a Belém, para o trabalho escravo na terra, ou para outras atividades, mas sempre na condição de escravos. As segundas adotando processo muito mais forte e destruidor durante e apos os combates com os nativos. Muitos antes de morrer viam as suas companheiras e filhas sendo abusadas pelos selvagens invasores “do continente civilizados”.
A escravização, como era feita, só podia suscitar reações inconseqüentes. Bárbaros saídos das selvas, habituados ao trabalho sem normas rígidas – e donos sobretudo do próprio destino, livres como os animais daquela  grande região – jamais poderiam compreender porque eram confinados em redutos,  sob a vigilância exclusiva de feitores – feitores: Há varias funções entre ela punir e capturar escravos rebeldes e fujões – indivíduos maus, sem escrúpulos, perversos. Parte da quadrilha de salteadores invasores que não respeitaram ninguém, esta é a verdade. Estava faltando, como depois ficou reconhecido, a presença a presença  dos apóstolos de Cristo, que civilizavam por meios brandos.
Alcançou notoriedade, todavia, pela singularidade de que se revestiu, o romance de Guilherme Valente, sargento do Forte da Barra de São José do Rio Negro – hoje Manaus –, com a encantadora índia filha do tuxaua – chefe da tribo – do índios Manaus. Com essa aproximação, sem dúvida providencial, numerosos selvagens chegaram a ser localizados num povoado `a boca do Rio Caborí, sob a proteção espiritual dos padres carmelitas.
Tais religiosos, chegados `a Amazônia em 1695, prestaram assinalados serviços `a causa lusitana. Avultados números de núcleos populacionais foram por eles fundados. Em contatos com os gentios, tudo fizeram para corresponder `a confiança neles depositadas.
Aconteceu, porem,  que, enquanto os evangelizadores procuravam pacificar, escalões de idiotas, malfeitores oportunistas e gananciosos por fazer fortunas com a prisão desses homens livres; percorriam as margens banhadas pelo Rio Negro até `as cabeceiras na perseguição desses livres homens nativos. Inutilizaram assim, a trabalho da catequese.
Ciente de tais desacertos, o próprio monarca, na metrópole, achou conveniente recomendar ao governador do Pará. Cristovão  da Costa Freire, no sentido de que enveredasse por outros caminhos, em proveito do Estado e da gentilidade – gentilidade: Povos gentios, religião dos gentios; paganismo –.
Exatamente nesse período surgiu, no vasto palco hinterlandino, o vulto a todos os títulos carismático de AJURICABA, ( robusto, forte e corajoso), e em derredor do qual se aglutinaram, para a maior Confederação Ameríndia da Amazônia, as principais tribos da região, prontas para o sacrifício supremo, qual o de assegurar a liberdade de quantos ali vieram ao mundo.
Ajuricaba, para o desempenho da tarefa emancipadora, nascera um predestinado.  Filho de Huiuiebéue e neto de Caboquena – ambos Tuxauas de ímpetos guerreiros – era, na qualidade de coordenador das tribos aliançadas, o homem talhado para aquele movimento culminante. Destemido e inteligente, ninguém melhor para pôr em ação as hordas rebelionárias. A origem do antropônimo, do ponto de vista etimológico, talvez tenha propiciado o vigor ao personagem, segundo Adauto Fernandes, IN <<ARAPIXÍ>>: AJURICABA, de AIURI e CAUA (ou caba, vernaculizado), significando <<UM SÓ QUE VALE POR MUITOS HOMENS>>.
Compenetrado dessa inexorável determinação – líder incontestado de seus irmãos de gleba – arremetia, resoluto, contra os invasores todo o poder de que dispunha. Odiava os brancos desde CURUMIM – quer dizer criança – quando assistiu ao massacre de seus irmãos adultos incluindo o próprio avo o Tuxaua Caboquena, que veio a perder a vida nas lutas em sua própria aldeia. Nunca ouve  por parte dos políticos da Amazônia uma solicitação de pedido de desculpa ou perdão por essas barbaridades com os nativos do grande Vale Verde.
Era assim Ajuricaba, temido pelos homens brancos – invasores – e querido pelas mulheres dos Tucanos e dos Bares. Um dia, porem, quando houve por bem escolher a companheira dileta, foi buscar a mais bela  CUNHÃ dos Tariás,  famosos pela combatividade.
Nas três primeiras décadas do século XIII, segundo as crônicas, permaneceu `a testa de seus bravos, opondo sérios entraves `a conquista portuguesa. Pelo que veicularam testemunhas daqueles longevos os assaltos que eram feitos em condições esmagadoras. Eis o pronunciamento de Arthur Cezar Ferreira Reis: <<Correndo a grande artéria (o Rio Negro), entrando pelos lagos, furos, Paranás e afluentes, correndo o Vale do Rio Branco, ia levando a destruição até a aldeamentos de ameríndios, quando os sabia aliados dos portugueses. Castigando esses nativos, escravizava-os, incendiava-lhes os povoados, assinalando-se em sangue e fogo. Noutras ocasiões entrincheirava-se em estacadas de pau-a-pique, a modo das fortificações dos conquistadores,  desafiando-os, certo de que não seria atacado, o que de fato jamais ocorreu, dado o ardor por que se batia>>.
Contra ele levantou-se, em 1723, o governador Maia da Gama, do Pará, solicitando a metrópole permissão para enfrentá-lo com a <<A GUERRA JUSTA>> PORQUE NAO DIZER COVAR?.  Criando mentiras o que era muito comum entre os invasores que retornavam a metrópole, como vamos ver adiante. Por isso, alem de outras razões, sustentou que Ajuricaba se tornara aliado dos homens do Suriname –aqui pode se ver hoje que era extremamente impossível esta aproximação devido a grande distancia geográfica que ficava e a preocupação de Ajuricaba era a sua periferia no coração da selva. Isto para a metrópole não fazia muita diferença pois nada por lá sabiam como se vivia na selva, e nunca souberam o que era distancia e dificuldade em sobreviver por essas novas terras. Segundo as calunias uma era muito forte a de que os homens do Suriname forneciam armas e munições para ele. Tamanha a afinidade, por parte do nativo rebelde, que sua frota de igarités – canoas – ostentava, desfraldada a bandeira holandesa. Ai uma forte calunia para que assim fosse convencido o incrédulo monarca da época.
Com o objetivo, pois, de impedir semelhante aliança – visivelmente atentatória aos “direitos” de Portugal – teve origem em Belém, em caráter de emergência, a Expedição Belchior Mendes de Morais. 
Na corte,  quando chegou a noticia dessa reação bélica, houve logo uma preocupação de providencias menos violentas. Conquanto estivessem em jogo os interesses da coroa, aconselhável será apurar melhor os acontecimentos, o que na verdade nunca não ocorreu.
Num segundo apelo, em 1724, Maia da Gama um  tirano cuidou de sensibilizar astuciosamente o soberano, que, afinal, ao tomar conhecimento do assunto, achou oportuna a interferência de missionários.
Dai a presença, entre os guerreiros de Ajuricaba, do padre Manuel Sousa. Este, por meios hábeis, alcançou êxito em sua tarefa. Conseguiu, por exemplo, o resgate de 50 prisioneiros, informando ainda ao governador Maia da Gama a propósito de entendimentos até então obtidos.
Estava a obra pacificadora  colocada nesses termos, quando grave denúncia veio `a baila, e chegou ao conhecimento daquele governante. Denúncia atribuída aos carmelitas.
Diante de semelhante ocorrência, cuja origem não podia ser subestimada, houve imediata convocação do Conselho das Missões, que, após longos debates, resolveu dar pleno assentimento ao governador Maia da Gama. Só apareceu em plenário um voto discordante: o do diretor do colégio dos jesuítas. Conclui-se aqui, que os Carmelitas com inveja do poder de persuasão e sentido-se prestes a perderem o controle para os jesuítas instigaram e criaram tal situação via calunias e mentiras, muito comum `a aquela gente “civilizada” que invadiam os continentes das Américas. Resultado da ganância e da posse.
Surgiu assim, desse pronunciamento, a Expedição da morte custasse o que custasse do guerreiro Ajuricaba, sob o comando de João Paes do Amaral, para combater os “rebeldes” do Rio Negro. Essa tropa recebeu, ao chegar ao teatro dos acontecimentos, a colaboração de Belchior Mendes de Morais.
Consoante o plano estabelecido, entraram em ação  as forças beligerantes. Ao que informa Arthur Reis, <<ouve choque violento. De parte a parte muito heroísmo. Os portugueses, a certa altura, depois de batidos quatro em investidas, já principiavam a desanimar quando alguns soldados, completando o cerco, atacaram Ajuricaba pela retaguarda, conseguindo vencê-los>>. Adianta a narrativa que nessa ocasião, Ajuricaba, perdendo o filho, tão bravo quanto ele, o jovem Cucunaca, lançou-se entre os inimigos, infligindo lhes várias  perdas, sendo afinal preso e posto a ferros.
Em decorrência do insucesso no da sua luta, viu-se Ajuricaba jogado ao chão de um barco que o levaria a Belém no Estado do Pará, onde seria “julgado”. Julgamento parcial e afrontoso, com a chancela de traidor. Todo invasor, todos os déspotas usam dessa artimanha e de tudo que possa menosprezar os dominados, neste caso os invasores queriam  por todos os meios o domínio total e a submissão de homes livres, que se sujeitassem `as vontades como seres superiores que ali assaltavam um território livre em todos os sentidos. Esta é a maior virtude de todos os idiotas dominadores, a opressão.
Em caminho, pois – depõe Agnello Bittencourt, com a austeridade que todos lhe reconheciam – antes de chegar  `a embocadura do Rio Negro, tentou liberta-se e aos seus companheiros. Sublevou, mesmo em grilhões, a gentilidade das embarcações, ameaçando seriamente as tropas de Pais do Amaral e Belchior Mendes de Morais.
Infelizmente dominado o levante, depois de muito sangue derramado, para não se sujeitar `as humilhações do inimigo vitorioso, lançou-se com outros parceiros `as águas do oceano fluvial que tanto amava, perecendo afogado, para a  grande satisfação dos conquistadores, agora livres de vez das preocupações de tê-lo sob a mais rigorosa vigilância em quase um mês de viagem até Belém no Pará. Bem aqui poderíamos dizer que a historia não foi assim. Os sanguinários conquistadores e sobre tudo mentirosos, pois anteriormente para provocar a luta para dominar Ajuricaba, eles convenceram o governo provincial a mandar mentiras para a corte, inflamaram carmelitas contra jesuítas. Não seria interessante, terem Ajuricaba sob as suas custodias, pois poderia ser liberto novamente, então o mais certo foi o que fizeram, ao terem dominado e para que todos os povos ali submisso, por eles invasores sentisse o seu poder e a sua força, colocaram todas as tribos  que sob sua custódia se encontravam `a margem do caudaloso Rio Negro o atiraram - Ajuricaba - acorrentado  ao meio do rio e assim era o fim para todos os povos indígenas ali presentes, o fim das suas lutas de homens livres que eram.
Hoje decorrido muitos anos de sua morte cheia de tenacidade, Ajuricaba comparece perante a historia com as mesmas prerrogativas de heroísmo de um Zorobobé, de um Jacaúna, de Jaguaribe, de um Tibiriçá   ou de um Arariboia. No cenário indígena das terras hoje chamada de Brasil.
Quem o alçapremou (Alavanca para levantar grandes pesos. Tenaz), porem, ao galarins (galarim: s.m. Cúmulo, fastígio, o ponto mais alto; opulência, grandeza.)da fama, foi o ínclito patrício Joaquim Nabuco, ao escrever a obra monumental que é o << O DIREITO DO BRASIL>>, extirpando por completo o labéu com que o envolveu Ribeiro Sampaio - <<mal informado ou tendencioso>>, no conceito de Agnello Bittencourt – para colocá-lo, triunfante, entre os protomártires da liberdade em sua terra: o Amazonas. Filhos da terra, somos a própria terra, e quem por ela morre, em condições heróicas, não pode ser um traidor.
Verdadeiramente consagradoras, assim, as homenagens que já estão sendo tributadas ao vulto tutelar, como a de  Eduardo Tourinho, IN <<ESSE CONTINENTE CHAMADO BRASIL>>, em capitulo que assim se termina:<<Tal  Cunhambebe no Rio de Janeiro, a tradição de bravura dos aborígenes amazonenses teve como epigono (refere-se aquele pensador, cientista, artista, etc,) o grande bárbaro Ajuricaba, principal que foi entre os Manaus do Rio Negro>>.

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