Expedição de Ursúa
Tomadas
todas essas providencias, aparentemente supérfluas – mas em rigor exigidas em
face das peculiaridades da navegação hinterlandina – parte a Expedição do
Hualhaga. Roteiro consoante o de Francisco Orellana, ou melhor, descendo o
Marañon até atingir o Atlântico. Ao que asseguraram crônicas da época, serviu
de guia para os auxiliares de Pedro de Ursúa a explanação do próprio “Adelantado”.
Nem
podia ser de outra maneira, sabendo-se que tais penetrações, há séculos, eram
revestidas de cuidados especiais. As precauções tomadas pelas grandes
potenciais, nos dias atuais, ainda não ultrapassaram reuniões sigilosas, nas
quais os antigos assentavam notáveis realizações.
Com
a disposição, portanto, de reconstituir a aventura de Francisco Orellana –
dessa segunda – vez em condições propiciatórias - percorreram os espanhóis todo o amplo território
de Mechiparo, bem assim o domínio
dos Omaguas. Já em pleno Solimões – no hoje Brasil, no Amazonas – encontraram
um povoado, onde obtiveram acolhida, inclusive farto aprovisionamento de
farinha e tartarugas.
Nada
obstante iniciativa de um homem, como Pedro de Ursúa, habituado a discernir caracteres, ficou a Expedição
integrada de elementos heteróclitos, com evidente predominância dos maus. Dentre esses, Lobo
d’Aguirre, por todos temidos e mais tarde factótum - Irônico: Aquele que se julga
ou mostra capaz de tudo fazer, de tudo resolver - dos sangrentos
acontecimentos da excursão.
Erro
mais grave cometeu Pedro de Ursúa, ao permitir o embarque da bela, rica e
gentil viúva Inês de Atienza, de quem tomou por empréstimo de seis a oito mil
pesos-ouro.
Erro
psicológico, diga-se de passagem, antes de quaisquer outras considerações. Se a
mulher entre dois homens não oferece tranqüilidade a nenhum deles, calcule-se
entre centenas de homens entregues `a própria sorte e sem poder atender `as
exigências do instinto. É por isso que no deserto os beduínos criaram a
cobertura completa sobre as mulheres, para que surgisse a cobiça das mulheres
de seu senhor – uma das razoes é claro que depois passou a fazer par de suas
leis mulçumanas - .
Atraído
pelos traços estonteantes da bela patrícia, deixou de agir com a necessária
altivez. Tal procedimento gerou a cizânia entre os homens dos tombadilhos.
Levantaram-se,
violentos, aos gritos de “viva
El-rei!! que muerto és El
tirano!!!”. E, ato continuo, extravasaram o ódio nas pessoas de seus chefes.
Pedro
de Ur´sua, vitima da insânia, tombou a golpes de punhal de Lôpo d’Aguirre. Aproveitando o ensejo, sob
pretexto de reivindicar a independência das possessões americanas, colocou `a
frente da tropa, como títere, D. Fernando de Gusmão, aclamado como o “Príncipe
do Peru”. Lavro-se uma ata do ocorrido.
Dai
por diante a indisciplina descambou para os assassinatos indiscriminados. Dando
vazão a recalques, Lôpo d’Aguirre – um perseguido, perseguidor e megalômano –
passou a ceifar a vida de quantos lhe entravam no desagrado. Poderíamos
classificar de que o inicio da posse das terras americanas pelos homens do
poder da época, foram, infelizmente, na maioria delas, tomadas por bandidos e
salteadores movidos por ganâncias, matavam os nativos sem dó e nem piedade e ao
voltarem as suas terras contavam grandes vantagens e lendas para que assim
fossem lhes dados mais poderes para voltarem novamente `a pratica dos roubos e assaltos as
terras dos tranqüilos nativos. O
que não ocorria com os navegadores independentes que bem antes desses por
terras americanas já percorriam.
D.
Fernando de Gusmão, guindado `a posição de chefe, caiu também varado por um
punhal. Seguiu-se-lhe como
preciosa ancila a sedutora Inês de Atienza, que tombou assasinada. Numerosos
graduados e subordinados desapareceram na voragem dos homicídios hediondos. As
amazonas, sem sombra de duvidas, foram as mulheres que perderam seus homens
quase na sua totalidade para esse imbecis
salteadores que a tudo roubavam, déspotas. E para sobreviverem foram elas a luta em
defesa da sobrevivência suas, e de
seus filhos. A selva, ou parte dela, era um verdadeiro inferno, provocado pelos
gananciosos estrangeiros – hoje um pouco diferente – que buscavam de tudo levar
para as suas terras. Quantos e quantos nativos foram acorrentados para serem
expostos aos seus senhores e ate hoje não se sabe o que fizeram com essas
criaturas indefesas. Se por lá ficaram, ou se retornaram a sua terra o que é
improvável.
Aliás,
é hoje sabido que, nesse episodio
impressionante, da entrada no vale verde, o vulto trágico de Lôpo d’Aguirre se agita como o de um
degenerado, `a luz da medicina e da psicologia.
A
principal ocorrência em viagem – a rápida aclamação de D. Fernando de Gusmão,
como o imperante espanhol da America – em verdade não passou de uma farsa. O
que almejou Lôpo d’Aguirre, efetivamente, foi deitar por terra o segundo homem
de prestigio da Expedição, e sagrar-se o senhor absoluto.
Não
lhe interessou, por conseguinte, a política de tomar posse em nome da coroa
espanhola. Pouco se lhe dava, por outro lado, a hegemonia do poder no
hemisfério `a pátria distante.
Queria, isto sim, a qualquer preço, notabilizar-se pelas façanhas e pelo
ouro roubado entulhado em seu navio. Intolerante e sanguinário, inutilizou para
sempre as reivindicações porventura cabíveis em favor de seu país. Cometeu
incalculáveis desatinos.
A
descida de Pedro de Ursúa, arquitetada quase de afogadilho, sem recursos
técnicos adequados, teria que redundar, como redundou em insucesso.
Lôpo
d’Aguirre, porem, tomando sobre os ombros a responsabilidade de chefiar a
Expedição – naturalmente dispondo de um plano para isso – levou tudo pelo
desejo de seus impulsos.
Descendo
o Rio Amazonas até `a embocadura
e, em seguida, com ligeira permanência na ilha de Margarida, nas Antilhas,
acabou por alcançar a Venezuela. Abandonado pelos asseclas, conhecidos pela
alcunha de “Marañones”, Lôpo d’Aguirre caiu nas malhas da lei, pagando no patíbulo onde foi
executado, com o nome infamado, a serie de crimes cometidos.
Fim
Próximo
capitulo: A fundação de Belém no
Pará
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