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quarta-feira, junho 27, 2012

AMAZONIA – parte 5 (B) –


Expedição de Ursúa
Tomadas todas essas providencias, aparentemente supérfluas – mas em rigor exigidas em face das peculiaridades da navegação hinterlandina – parte a Expedição do Hualhaga. Roteiro consoante o de Francisco Orellana, ou melhor, descendo o Marañon até atingir o Atlântico. Ao que asseguraram crônicas da época, serviu de guia para os auxiliares de Pedro de Ursúa  a explanação do próprio “Adelantado”.
Nem podia ser de outra maneira, sabendo-se que tais penetrações, há séculos, eram revestidas de cuidados especiais. As precauções tomadas pelas grandes potenciais, nos dias atuais, ainda não ultrapassaram reuniões sigilosas, nas quais os antigos assentavam notáveis realizações.
Com a disposição, portanto, de reconstituir a aventura de Francisco Orellana – dessa segunda – vez em condições propiciatórias - percorreram  os espanhóis todo o amplo território de  Mechiparo, bem assim o domínio dos Omaguas. Já em pleno Solimões – no hoje Brasil, no Amazonas – encontraram um povoado, onde obtiveram acolhida, inclusive farto aprovisionamento de farinha e tartarugas.
Nada obstante iniciativa de um homem, como Pedro de Ursúa,  habituado a discernir caracteres, ficou a Expedição integrada de elementos heteróclitos,  com evidente predominância dos maus. Dentre esses, Lobo d’Aguirre, por todos temidos e mais tarde factótum - Irônico: Aquele que se julga ou mostra capaz de tudo fazer, de tudo resolver -   dos sangrentos acontecimentos da excursão.
Erro mais grave cometeu Pedro de Ursúa, ao permitir o embarque da bela, rica e gentil viúva Inês de Atienza, de quem tomou por empréstimo de seis a oito mil pesos-ouro.
Erro psicológico, diga-se de passagem, antes de quaisquer outras considerações. Se a mulher entre dois homens não oferece tranqüilidade a nenhum deles, calcule-se entre centenas de homens entregues `a própria sorte e sem poder atender `as exigências do instinto. É por isso que no deserto os beduínos criaram a cobertura completa sobre as mulheres, para que surgisse a cobiça das mulheres de seu senhor – uma das razoes é claro que depois passou a fazer par de suas leis mulçumanas  - .
Atraído pelos traços estonteantes da bela patrícia, deixou de agir com a necessária altivez. Tal procedimento gerou a cizânia entre os homens dos tombadilhos.
Levantaram-se, violentos, aos gritos de  “viva El-rei!!  que muerto és El tirano!!!”. E, ato continuo, extravasaram o ódio nas pessoas de seus chefes.
Pedro de Ur´sua, vitima da insânia, tombou a golpes de punhal de Lôpo  d’Aguirre. Aproveitando o ensejo, sob pretexto de reivindicar a independência das possessões americanas, colocou `a frente da tropa, como títere, D. Fernando de Gusmão, aclamado como o “Príncipe do Peru”. Lavro-se uma ata do ocorrido.
Dai por diante a indisciplina descambou para os assassinatos indiscriminados. Dando vazão a recalques, Lôpo d’Aguirre – um perseguido, perseguidor e megalômano – passou a ceifar a vida de quantos lhe entravam no desagrado. Poderíamos classificar de que o inicio da posse das terras americanas pelos homens do poder da época, foram, infelizmente, na maioria delas, tomadas por bandidos e salteadores movidos por ganâncias, matavam os nativos sem dó e nem piedade e ao voltarem as suas terras contavam grandes vantagens e lendas para que assim fossem lhes dados mais poderes para voltarem novamente  `a pratica dos roubos e assaltos as terras dos tranqüilos  nativos. O que não ocorria com os navegadores independentes que bem antes desses por terras americanas já percorriam.
D. Fernando de Gusmão, guindado `a posição de chefe, caiu também varado por um punhal.  Seguiu-se-lhe como preciosa ancila a sedutora Inês de Atienza, que tombou assasinada. Numerosos graduados e subordinados desapareceram na voragem dos homicídios hediondos. As amazonas, sem sombra de duvidas, foram as mulheres que perderam seus homens quase na sua totalidade para esse imbecis  salteadores que a tudo roubavam, déspotas.  E   para sobreviverem foram elas a luta em defesa da sobrevivência suas,  e de seus filhos. A selva, ou parte dela, era um verdadeiro inferno, provocado pelos gananciosos estrangeiros – hoje um pouco diferente – que buscavam de tudo levar para as suas terras. Quantos e quantos nativos foram acorrentados para serem expostos aos seus senhores e ate hoje não se sabe o que fizeram com essas criaturas indefesas. Se por lá ficaram, ou se retornaram a sua terra o que é improvável.
Aliás, é hoje sabido que,  nesse episodio impressionante, da entrada no vale verde, o vulto trágico de Lôpo  d’Aguirre se agita como o de um degenerado, `a luz da medicina e da psicologia.
A principal ocorrência em viagem – a rápida aclamação de D. Fernando de Gusmão, como o imperante espanhol da America – em verdade não passou de uma farsa. O que almejou Lôpo d’Aguirre, efetivamente, foi deitar por terra o segundo homem de prestigio da Expedição, e sagrar-se o senhor absoluto.
Não lhe interessou, por conseguinte, a política de tomar posse em nome da coroa espanhola. Pouco se lhe dava, por outro lado, a hegemonia do poder no hemisfério `a pátria distante.  Queria, isto sim, a qualquer preço, notabilizar-se pelas façanhas e pelo ouro roubado entulhado em seu navio. Intolerante e sanguinário, inutilizou para sempre as reivindicações porventura cabíveis em favor de seu país. Cometeu incalculáveis desatinos.
A descida de Pedro de Ursúa, arquitetada quase de afogadilho, sem recursos técnicos adequados, teria que redundar, como redundou em insucesso.
Lôpo d’Aguirre, porem, tomando sobre os ombros a responsabilidade de chefiar a Expedição – naturalmente dispondo de um plano para isso – levou tudo pelo desejo de seus impulsos.
Descendo o Rio Amazonas até  `a embocadura e, em seguida, com ligeira permanência na ilha de Margarida, nas Antilhas, acabou por alcançar a Venezuela. Abandonado pelos asseclas, conhecidos pela alcunha de “Marañones”, Lôpo d’Aguirre  caiu nas malhas da lei, pagando no patíbulo onde foi executado, com o nome infamado, a serie de crimes cometidos.     
Fim
Próximo capitulo:  A fundação de Belém no Pará

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