Wikipedia

Resultados da pesquisa

segunda-feira, maio 21, 2012

AMAZONIA SUA HISTORIA – PARTE 3 –


Envolto ainda na vaidade de conquistador do Peru apos sangrentos  combates com os  guerreiros de  Ataualpa, decidiu  Francisco Pizarro, pelos idos de 1538, desvendar o  <<pais da canela>>. Quis saber da existência, em direção para o leste, para além- fronteiras do império incaico, de certa <<terra rica em especiaria, que lhe dá o nome, e se considera uma das mais preciosas do Novo Mundo>>.
As tentativas de exploração dessa terra vinham desde 1533, com Pedro de Cândia e Pedro Anzurey  de Camporredondo  pelas margens do rio Madre de Diós e do rio Beni,  tributários do rio Madeira. Alonso de Mercadelo chegou a fundar Chachapoyo, enquanto Gomes de Alvarado descobriu o rio Hualhaga (O Rio Huallaga é um rio que banha o Peru, sendo o principal afluente do rio Marañón).
Afeito aos labores cotidianos – ele um bastardo impelido `a luta pela vida em plena adolescência – pôs Francisco Pizarro para logo em execução a idéia lobrigada, por intermédio de um irmão, Gonçalo Pizarro. Chamando este a Cuzco, aceitou o convite sem relutância.
É que influenciado pelas versões corriqueiras acerca da região distante, financiou os próprios gastos as colunas destinadas `a grande aventura. Duzentos e vinte homens recrutados, dos quais cem a cavalo. Entregues por inteiro `a empreitada, nem dirigentes, nem subordinados puderam calcular as dificuldades por que iam passar.
Ultimados os preparativos da viagem, quer com relação a víveres, quer com referência ao preparo do contingente humano, partiu a expedição rumo a Quitos. Estimada em quinhentas léguas a extensão a percorrer. O perigo das matas totalmente desconhecida desses indivíduos aventureiros, era sem duvida eminente, em breve iriam enfrentar animais selvagens aos montes., como nativos armados de arco e flechas em riste, que assaltavam em grupos arrasadores.
Penetrando Quito, contornaram todos esses obstáculos, recebeu Gonçalo Pizarro o governo das mãos de Pedro Puellas, substituto de Sebastião Benalcázar, havia pouco se retirado dali.  Em seguida, diligenciou no reforço dos caravaneiros, mediante o aliciamento de habitantes das proximidades.
A essa altura dos acontecimentos,  entrou em ação  o bravo Fracisco Orellana, administrador de Guaiaquil. Com tanto ímpeto se vinculou ao empreendimento – depõem historiadores – que até contribuiu com apreciável soma em dinheiro. Meteu ombros, portanto, com a coragem que lhe era inata, com recursos financeiros e a experiência que tinha dos anos já passados em contato com a selva. A noticia de sua presença  foi motivo de justo regozijos. Todos consideravam valiosa a aquisição,  tanto mais quanto o momento exigia que os postos de maior responsabilidades fossem confiados a elementos assim, caldeados em duros trabalhos. Pelas credenciais apontadas, o destino lhe iria reservar, conforme elucidação mais adiante, papel de relevo como inexcedível condutor de homens.
A partida da expedição  saindo de Quito, em dezembro de 1539. Verdadeira cidade em marcha como era natural naquelas épocas  - compara o grande historiador amazonense e ex governador do Amazonas, Arthur César Ferreira Reis – mais numerosa que as bandeiras paulistas dos séculos dezessete e dezoito. Trezentos e quarenta soldados, dos quais cem montados fogosos cavalos, e mais de quatro ameríncolas. 
Mantimentos          `a  vontade, conduzidos por homens e lhamas. No rol de tais mantimentos, ovelhas e porcos em quantidade suficiente para o abastecimento por vários meses. Experimentados sertanistas `a vanguarda, inclusive Antonio de Rivera e João de Acosta, contando com terríveis cães-de-caça.
No devassamento das brenhas, em procura da riqueza ambicionada, os aventureiros suportavam os piores reveses. Nas cercanias  de Quixos, entre o Curaraí e o Napo, sofreram o assalto de Tapuios, que ali predominavam. Superiores em armas, os expedicionários  conseguiram por em fuga os nativos donos daquelas terras, apavorados `a vista da  barulhenta cavalgado dos bem adestrados cavalos.
Como que em defesa dos aborígenes,  a natureza criou problemas aos castelhanos. Caíram chuvas torrenciais semanas a fio, encharcando o solo e floresta. Desabamento de tendas deixando tudo desabrigado. As tropas amedrontadas sem saber o que fazer aos sobressaltos, a disciplina seriamente ameaçada. Animais e provisões para alimentação  exposta ao tempo.
Homem de ação, acostumado `as adversidades, Gonçalo Pizarro não capitulou, nem permitiu fraqueza entre os comandados. No propósito inarredável de encontrar os “bosques de La canela” – eí-lo mais revigorado que nunca, em busca da especiaria  tão sonhada. Agora, entrava a fase mais delicada: a transposição dos Andes.
Fácil de entrever o estado de espírito dos que  compunham a caravana em marcha, uma cidade em movimento. A selva quase impenetrável, hoje sabemos que era e continua sendo impenetrável a grande e verdadeira sela amazônica,  apresentando  de quando em quando uma surpresa. Caminhada  pelo sem – fim, onde dominavam flechas aceradas. Enxames de insetos como pragas. Doenças tropicais que nem cientistas conheciam ainda, e até hoje em século XXI não conhecem.   Só a ganância de descobrir terras e ouro etc... ou de servir a sua pátria, ensejaria semelhante heroísmo.
Evidentemente, não tardou a imposição de pesado ônus. Vultoso o número dos que tombaram em plena refrega, vitimas do frio penetrante para o qual não estavam preparados. Com os companheiros assim sacrificados – incumbidos da condução de gêneros alimentícios e outras utilidades – os responsáveis pelo desbravamento se viram na contingência de alijar quase toda a carga do lombo dos animais. Recurso extremo, em situação realmente vexatória.
Perseguidos assim pela doença, pela fome e pela fadiga, atacados  pelos rigores do clima – da cordilheira andina ao povoado Zimaco- alcançou – a Expedição, afinal, o “Pais da Canela”.
Entretanto, não pôde ser mais  desconcertante o contato com a quimérica  região. Centenas de léguas percorridas em vão, em setenta dias, sempre ao calor do mesmo entusiasmo. Arrancada de gigantes anelando apenas a revelação da decantada arvore medicinal.
Apos dois meses de busca improfícuas, em todos os ângulos da área visitada, achou Gonçalo Pizarro de bom alvitre dividir a Expedição em dois grupos – um sob a sua direção, e a outra `as ordens de Francisco Orellana. O primeiro com encargo de permanecer por algum tempo nas verificações que se tornavam necessárias; e o segundo para continuar a jornada, devorando distancias.  Assim, de cenho carregado e olhos vibrando energias, retomou  Gonçalo Pizarro  os passos para a frente, na esperança de encontrar o roteiro certo que o preocupava.
Dentro em pouco, agravou-se entre os expedicionários o problema da alimentação. Esfomeados e, pois, combalidos, perderam eles a noção do equilíbrio – muito comum em quem fica perdido nas matas e que não costume de com elas conviverem,  a mente sem as referencias costumeiras passa para o desequilíbrio levando o individuo a loucura-. Devoravam cães e cavalos. Ingeriam chás de ervas desconhecidas, e muitas vezes de qualquer folha, nas mais venenosas, e a imprudência custou o sacrifício de vidas preciosas. Perto de duzentos homens morreram a míngua. Dominados pelo medo e do terror, outros enlouqueceram.
Gonçalo Pizarro, como todo chefe em momento desesperador, tomou deliberações compulsórias. Impôs a disciplina a qualquer preço. Não deu trégua aos selvagens, matando-os com a maior desenvoltura. Queimava-os sem piedade, transformando-os em tochas humanas. Aos colaboradores, que faltavam `a verdade, jogava-os vivos `a voracidade de cães famintos para serem devorados aos gritos até a morte e ninguém os poderia socorrer era a lei   imposta pelos estrangeiros naquela selva.
Acolhido pelo cacique Dalicola, `as margens do Coca, acampou o indômito sertanista durante dois meses, para refazer o animo dos que estavam sob seu mando.  Foi anunciada, pouco depois, a aproximação de Francisco de Orellana  que, `a frente  do escalão, no pais da canela , tentara desvendar, em definitivo, o mistério das desejadas arvores, para exploração de qualquer natureza. Não tinha sentido econômico a canela encontrada.
Aproveitando a presença de todos os componentes da expedição  – dos que acabavam de chegar e dos que com ele estavam naquele lugar -  promoveu Gonçalo Pizarro importante reunião,  na qual expôs, sem evasivas, seu modo de pensar. Abriu a alma, falou sem circunlóquios e solicitou opiniões. Dessa singular reunião, no centro da mata, resultou a linha de conduta dos visionários: para a frente! 0 segundo os desígnios divino. Ficou assentado, ainda, a construção de embarcações, com os recursos de emergências, porque as correntes fluviais  não mais permitiam o avanço marginando o Coca.
O preparo das embarcações ficou sob o critério do exímio entalhador Diogo Mexia, com madeira extraída da selva. Material arranjado sem preocupação de durabilidade. Pregos feito de fechaduras de malas e ferraduras de cavalos. Calafetagem com resina de arvores e estopas de roupa velhas
Assim conduzidas as coisas, dentro de poucos meses estava a frota em condições  de zarpar. Alem dos soldados e remeiros, grei Gonçalo de Rivera e frei Gaspar de Carvajal, cinco assistentes religiosos. O segundo também investido das funções de escrivão.
Parte por água – os doentes e cargas – e parte por terra, percorreram os escalões dos reinóis muitas léguas, até que alcançaram um lugarejo, cujos nativos informaram a existência, mais adiante, de farto manancial de viveres. `A semelhança, de viajantes no deserto, que tudo sacrificam por um OASIS, os caravaneiros de Gonçalo Pizarro viram na informação, fugidia e inconsistente, mais uma oportunidade que se esvaía   no transcurso dos dias.
Refletindo num relance a gravidade do instante decisivo, e admitindo que o sofrimento deve ter um limite, concordou Gonçalo  Pizarro na ida de Francisco Orellana `a vanguarda, nas embarcações, a fim de providenciar sobre o problema do aprovisionamento.
Missão conferida, claro, em termos bem compreensíveis. Confiança no companheiro que vinha dando reiterados exemplos de pugnacidade. Por outro lado, conhecedor dos meandros da hinterlândia, pelos anos de intensa atividade já sustentados, ninguém melhor indicado para o desempenho da tarefa. Perspectivas baseadas no desejo de todos tinham de sobrepor-se `as  asperezas da estupenda arrancada. Mas, se a ausência dos emissários se prolongasse alem de oito dias – que tudo corresse sem alarde e sem vacilações, <<por Deus e pelo rei>>.
 

Nenhum comentário: