Partido aniversaria nesta quinta em busca de se adaptar à relação longínqua com a presidente, em contraste com proximidade que tinha de Lula
09 de fevereiro de 2011 | 23h 01
João Domingos
BRASÍLIA - Depois de 31 anos de predomínio total do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em qualquer assunto que se referisse ao PT, os militantes do partido começam agora a perceber que vivem uma realidade diferente com a presidente Dilma Rousseff.
BRASÍLIA - Depois de 31 anos de predomínio total do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em qualquer assunto que se referisse ao PT, os militantes do partido começam agora a perceber que vivem uma realidade diferente com a presidente Dilma Rousseff.
Ao contrário de Lula, que tinha uma relação de amizade e de informalidade com os petistas próximos, com Dilma o tratamento é quase protocolar. Ambos são aguardados hoje na festa pelo aniversário dos 31 anos do partido, em Brasília.
De acordo com informação de auxiliares da presidente, ela procura não fazer distinção entre um ministro petista e um de outro partido e procura se ater mais aos objetivos traçados para as pastas do que se inteirar das últimas "fofocas" partidárias.
Na seara política, o primeiro embate de Dilma ocorreu com seu próprio partido, o PT, antes mesmo da posse dela no Planalto e muito antes das suas rusgas com o deputado peemedebista Eduardo Cunha (RJ).
Na ocasião, havia pressão de todas as partes para que Dilma escolhesse um petista para comandar o Ministério do Meio Ambiente. Entre os nomes citados pelas diversas correntes estavam o do paulista José Machado, de Marilene Ramos, do Rio, e de Hamilton Pereira, ex-presidente da Fundação Perseu Abramo. Dilma rejeitou todos os apelos feitos pelos correligionários e confirmou Izabella Teixeira, titular do posto desde março de 2010. Izabella não é filiada ao PT.
Ao contrário de Lula, que fazia festa toda a vez que se encontrava com velhos militantes petistas, Dilma não age assim. Até porque não teve origem no PT, mas no PDT de Leonel Brizola. Lula gostava de falar de pescarias, futebol e do tempo de sindicato. Dilma prefere falar de artes, literatura e música. Gosta um pouco de futebol, mas não a ponto de gastar o tempo nas intermináveis e acaloradas discussões que o assunto costuma gerar.
Para o contato com o mundo além do Palácio do Planalto - pelo menos por enquanto -, Dilma Rousseff nomeou o ministro Antonio Palocci (Casa Civil). Ele é sua referência no PT sobre todos os assuntos, as negociações sobre cargos, as relações com o Congresso. Quando se encontra com políticos, como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a formalidade impera.
"Claro que há diferença de perfil e do histórico de cada um. Lula personifica o PT, a Dilma não", diz o presidente do partido, José Eduardo Dutra. Para ele, a relação dos petistas com a presidente não deve mudar muito. "Na Presidência, o peso deles é igual", diz. "A diferença está no estilo, na personalidade".
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que era do PT e foi ministro da Educação no primeiro governo de Lula, acha que Dilma não se deixará levar por amizades e sim por resultados. "Lula prestigiava os que estavam próximos, que o elogiavam a todo instante. Acredito que isso será diferente com Dilma".
Ele avalia que Dilma saberá fazer a diferença entre os "bajuladores" e os "alertadores". O senador diz ter sido um "alertador" de Lula e foi isso que levou à sua demissão. "Na primeira semana eu disse que não era preciso fazer o Fome Zero; bastava aumentar a Bolsa Escola. Meu erro foi ter dito isso na televisão, porque o Fome Zero era a grande aposta de Lula e o Bolsa Escola era um programa que lembrava a gestão de Fernando Henrique Cardoso. Fiquei marcado".
Para piorar a situação, segundo Cristovam, um dia Lula perguntou a ele se a política de cotas nas escolas resolveria o problema da educação.
"O ideal é termos uma boa escola, respondi". Segundo Cristovam, Lula então lhe indagou: "E quanto tempo é necessário para se fazer essa boa escola?". Cristovam respondeu: "Uns vinte anos, presidente, se cumprirmos o dever de casa". Lula não gostou do que ouviu.
"Acho que se fosse a Dilma, ela me diria: ‘Você é o ministro. Dê um jeito de fazer o dever de casa ou então não tem motivo para estar aqui’".
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