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terça-feira, maio 10, 2011

Machu Picchu, Pedra sobre pedra

Pensamento de hoje: Não interrompa a manifestação de carinho a uma pessoa querida, só porque os outros o julgam errado.
Consulte sua consciência e não dê ouvidos as vozes da inveja e do ciúme.
O carinho é o oléo que lubrifica as engrenagens da vida, que já é dura por si mesma.
A vida sem afeição é um inferno, um deserto sem oásis.
Conserve seu carinho, dedicando-o as pessoas a quem você ama.


Revelada por Hiram Bingham há 100 anos, Machu Picchu continua a ser o destino de sonhos para muita gente que deseja conhecer de perto o ícone da civilização inca

10 de maio de 2011 | 6h 00 Fábio Vendrame/S. Alcantara

A ancestral cidade de pedra comemora no dia 24 de julho o centenário de seu descobrimento

Machu Picchu, ou a Cidade Perdida dos Incas, localiza-se a 2400 metros de altitude, num verdadeiro desafio de engenharia para o século XV. Seus idealizadores, os incas, a construíram em um tributo à vida, na conexão entre a terra, os humanos e seus deuses.

Apenas coberta pela vegetação, Machu Picchu se manteve intacta por cinco séculos e foi um importante centro político, religioso e administrativo: a cidade chegou a abrigar mais de mil habitantes fixos. A descoberta da cidade, que é considerada atualmente um Patrimônio da Humanidade, foi feita pelo norte-americano Hiram Bingham, em julho de 1911.

CHINCHEROS - Perto do céu, quase acima das nuvens, Chincheros conserva intacta a tradição têxtil andina. Lá, a 3.762 metros de altitude, encontra-se o que há de melhor em artigos de lã. E mais: você tem a oportunidade de acompanhar passo a passo a confecção de gorros, agasalhos, cachecóis, tapetes e toalhas de mesa, desde a raspagem do couro de lhamas, alpacas, vicunhas e ovelhas até o processo de coloração e fiação das peças.

Evangelina Kusiwaman Cusicuna lidera a comunidade de 15 mulheres da Textileria Urpi. Elas trabalham cerca de seis horas por dia na confecção dos produtos e levam até um mês dedicando-se a uma única peça.

As mulheres de Chincheros preservam a ancestral tradição de tosar, lavar a lã com saqtana (planta chamada de ‘xampu inca’), trabalhá-la com a pusca (tear), ajustá-la e arrematá-la com o ruki (ferramenta obtida de um osso de lhama). Para tingir as peças, apenas recursos naturais: insetos, folhas, flores, frutos, tubérculos.

Fixam as cores cozinhando os fios com sal, pedras vulcânicas e limão. Meia hora de fervura basta. Simples. De quebra, Evangelina ensina os incautos a identificar a qualidade das peças. Um aprendizado valioso, tendo em vista que o apelo dos artigos de lã vai acompanhá-lo por toda parte.

Arco-Íris. A bandeira colorida, hoje associada à comunidade gay, é na verdade o pavilhão histórico dos povos andinos. Por isso, tremula por todos os cantos, especialmente em Cuzco. Apreciadores contumazes da natureza, os incas também cultuavam o arco-íris. Em Chincheros, aliás, havia um templo dedicado ao fenômeno natural, transformado depois da chegada dos espanhóis na Igreja de Monserrat.

Processo natural. Veja abaixo de onde vem cada cor; o limão é usado quando se quer obter tons mais claros.

Cochinilla (inseto do cactus): vermelho

Eucalipto: verde escuro

Qolle (flor): amarelo

Kilko: amarelo ouro

Maíz morada: roxo

Tara (semente): marrom

Queuña (casca de árvore): marrom claro

Taruy (flor): azul

Chilca: verde-oliva

Musgo: laranja

Saqtana (xampu inca): planta usada para lavar a lã

O primeiro passo é tirar a lã do couro, literalmente, trabalho realizado com cacos de vidro. São utilizadas lãs de ovelha, alpaca e vicunha, sendo a última a mais nobre e, por isso, de maior valor no mercado

Em seguida, a lã é lavada com saqtana, uma planta chamada de 'xampú inca'

Para tingir as peças, utilizam apenas recursos naturais: insetos, folhas, flores, frutos, tubérculos

Fixam as cores cozinhando os fios com sal, pedras vulcânicas e limão. Meia hora de fervura na panela basta. Simples, natural, zero impacto no meio ambiente

Depois, os fios são trabalhados na rueca ou pusca (tear rudimentar), tarefa executada em duplas. Começam a tomar forma desenhos e motivos característicos simetricamente dispostos nos tecidos

Por fim, ajustam e arrematam a peça com o ruki, ferramenta obtida de um osso das lhamas.

A emoção de alcançar a cidadela pela Trilha Inca

Depois de quatro dias de caminhada e 42 quilômetros entre montanhas que chegam a 4 mil metros de altitude, surge a recompensa: a cobiçada Porta do Sol

MACHU PICCHU - A chegada à Porta do Sol é pura emoção. Dali avista-se pela primeira vez Machu Picchu. Difícil conter as lágrimas. Elas brotam sem que você se dê conta. Diante de olhos marejados uma viagem de sonhos converte-se em realidade e se materializa bem ali a sua frente, numa cidade de pedra. Recompensa para quem encara os 42 quilômetros de sobe e desce em zigue-zague nos Andes. Caminho que costura montanhas a altitudes que ultrapassam os 4 mil metros. Fazer a Trilha Inca é o tipo de experiência que costumamos classificar de conquista pessoal.

O trajeto completo dura quatro dias, com saída do quilômetro 88 da ferrovia que liga Cuzco a Águas Calientes. A opção é fazê-lo na metade disso, em dois dias, a partir do km 104. Seja qual for a escolha, é preciso agendar com antecedência, com agências e operadores credenciados.

As novas regras impostas pela direção do Parque Arqueológico Nacional de Machu Picchu estipulam um limite no número de andarilhos, e a espera pode alcançar até seis meses. Apenas 500 pessoas, entre turistas, carregadores, guias e cozinheiros, podem ingressar na trilha ao mesmo tempo. Postos de controle e orientação pontuam todo o percurso. O custo médio é de US$ 350 por pessoa, valor que inclui camping e alimentação.

Razoável preparo físico e, sobretudo, disposição mental ajudam no caminho. O trajeto que se convencionou chamar de Trilha Inca faz parte do Qhapaq Ñan, extensa rede de caminhos que entrelaçava todo o Império Inca, algo em torno de 40 mil quilômetros - contempla os territórios hoje ocupados por Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina.

Também é fundamental carregar na mochila apenas aquilo que você vai realmente precisar. Apesar de a trilha permanecer acessível o ano todo, a melhor época para fazê-la é no inverno, quando não chove na região. Por isso, um bom casaco é importante. Mas saiba que será usado apenas ao anoitecer. De dia, você estará empenhado em vencer o irregular calçamento do percurso.

No primeiro dia de trilha, são sete horas de pernada até alcançar a área de camping situada em Huayllabamba. O tempo todo acompanhado por visuais espetaculares, com sequências de montanhas e o Rio Urubamba tronando forte no fundo do vale.

O segundo dia é bem mais puxado, exige esforços e fôlego extras para cumprir seus 16 quilômetros. Você há de superar o ponto mais elevado da trilha, o Warmi Wañusca, a 4,2 mil metros sobre o nível do mar. A jornada termina em Pacaymayo.

Depois da pauleira do dia anterior, o terceiro é até suave. São apenas mais 11 quilômetros de caminhada, e a maior parte do trajeto é plana, com poucas subidas e muitas descidas. Visita-se os sítios arqueológicos de Phuyupatamarca, Intipata e Wiñaywayna - um aperitivo para Machu Picchu.

O pernoite ocorre no acampamento-base, com direito a confraternização entre os viajantes. É quando gente do mundo inteiro se reúne e relata suas experiências até ali, a poucas horas de atingir o grande objetivo.

A saída do quarto dia é bem cedinho, antes de o sol nascer. Até porque a ideia é chegar à Porta do Sol (Intipunku, na língua incaica), a antiga entrada da área de acesso restrita a Machu Picchu, antes da aurora. Somente assim os viajantes acompanham a cidade ser paulatinamente iluminada pelos primeiros raios de sol. Dali em diante, apenas mais uma hora de caminhada antes de entrar na cidadela.

Alternativa. Menos procurada, a Trilha do Salkantay é uma opção à sempre concorrida Trilha Inca. São 50 quilômetros de percurso, entre o povoado de Mollepata e o vale do Rio Vilnacota, em Águas Calientes. Os aventureiros partem de 3.800 metros de altitude e chegam a 4.650 metros, em um caminho onde se observa a transição entre o clima seco dos Andes e o início da Amazônia.

Diversas empresas operam o trajeto, que, ao contrário da Trilha Inca, não tem limite de visitantes. Além do acampamento tradicional, há também o conforto dos lodges. O pacote com guias e refeições, cinco noites nos lodges e mais uma em Águas Calientes custa US$ 2.850 por pessoa na alta temporada.
COLABOROU ADRIANA MOREIRA

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