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sexta-feira, maio 06, 2011

Ao vencedor, as batatas

Para refletir: LEMBRE-SE
Lembre-se de que colhemos, infalivelmente, tudo aquilo que semeamos.
Se vivemos em sofrimento, é porque estamos colhendo os frutos do que plantamos ao longo das nossas vidas, se não lembramos é porque temos vergonha e medo de rever o passado, daí "esquecemos".
Devemos estar atentos ao nosso momento presente, analisar antes de falar ou fazer.
Plantemos somente sementes boas como: amor, otimismo, paz, compreensão, armonia e assim estaremos prontos para colher os frutos bons da prosperidade equilibrada, da alegria, e da felicidade que tanto perseguimos.

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Por Walter Hupsel . 05.05.11 - 17h34

Walter Hupsel é doutorando em Ciência Política pela USP e Professor de Ciência Política e Relações Internacionais na Faculdade Santa Marcelina. Nasceu em Salvador, torcedor doente do Esporte Clube Bahia e roqueiro até o fim.

Walter Hupsel escreve a coluna Política on the Rocks semanalmente, às quintas-feiras.

E o homem mais temido do mundo está morto. Depois de dez anos de uma intensa e cara caça a Osama Bin Laden, depois de mais de um trilhão de dólares gastos. Ele foi morto pelas tropas estadunidenses no seu esconderijo, numa casa na cidade turística de Abbottabad, no Paquistão. O inimigo ideal está, segundo os EUA, jogado em algum lugar do oceano.

Há diversas considerações a fazer, seja à luz do direito internacional (ao que parece ao governo do Paquistão não foi pedida autorização - o que se configuraria, assim, como crime), seja o destino do corpo, que segundo alguns não teria sido seguido as tradições muçulmanas.

Além de tudo tem também o assassinato de Bin Laden, que pode ser interpretado de duas maneiras: ou se acredita que foi um ato de uma guerra, ou aquilo foi simplesmente uma execução sumária, um crime com o agravante da ocultação de cadáver. Queima-de-arquivo (alguém aí lembra como surgiu a Al Qaeda? As ligações dos Mujahedins do Afeganistão com a CIA? Da amizade de Bin Laden com a maior ditadura árabe, a saudita, que é o grande aliado dos EUA no Oriente Médio?).

Mas meu foco aqui é outro. Uma singela pergunta: Depois de dez anos (ou mais, se considerarmos os atentados na Arábia Saudita), quem venceu?
Nesta briga entre ex-compadres foram gastos mais de um trilhão de dólares injetados na indústria bélica, duas guerras em curso (Iraque e Afeganistão) com milhares de cadáveres, e, principalmente, depois do recrudescimento das leis e a suspensão de garantias e liberdades individuais, eu digo: Osama venceu. E os neo-conservadores americanos também.

Osama ganhou notoriedade e legitimidade pra uma pequena parcela dos muçulmanos cansados das interferências dos EUA nos seus países. Foi, durante um tempo, a síntese catalisadora dos fundamentalistas islâmicos. Foi o que queria ser: um ícone, uma imagem contraditoriamente bem “ocidental”, bem estadunidense. Mais que isso, provocou medo e terror pelo mundo.

Com o 11 de setembro os Estados Unidos arranjaram o pretexto que faltava desde a queda do muro de Berlin. Arranjaram um novo inimigo externo, sem rosto ou território, um espectro que podia estar em todo e qualquer lugar.

Este inimigo foi como um sonho que se transformou em realidade. Desde então poderiam intervir em qualquer lugar do globo terrestre com o argumento que ali poderia estar uma ameaça à paz internacional. Ataque preventivo, dizem. Adquiriram o dom da clarividência Mãe Dinah e puderam debelar ataques antes que eles acontecessem. E assim foi feito.
Além do mais, o “patriot act” suspendeu garantias e direitos individuais, deu ao governo dos EUA poderes nunca vistos numa democracia, suspendeu o direito de defesa pra qualquer um que fosse por eles declarado “suspeito” de ser terrorista. Criou um vazio jurídico, um não lugar, a exceção.

Assim, Osama foi fundamental para os devaneios dos “neo-cons”. Deu a eles o que queriam. E estes moldaram o começo do novo século.

Mas Bin Laden também perdeu. A sua ideia de unir os muçulmanos contra o “Ocidente” falhou. Nos recentes protestos que derrubaram governos e mudaram a perspectiva da “rua árabe”, a foto dele não estava lá.

E o presidente Obama? Este ganhou fôlego. Estava com a popularidade em baixa depois de não cumprir algumas de suas promessas de campanha (entre as quais o fechamento imediato de Guantánamo, o lugar da exceção). Agora é forte candidato à reeleição, bem como os parlamentares democratas, que provavelmente ganharão votos com o assassinato de Bin Laden.

Barack Obama ganhou, mas o fez dando uma guinada radical à direita. Ganhou, levou, mas fez de seu governo um continuum das políticas do governo anterior, com as mesmas violações dos direitos fundamentais, com o uso da tortura, cometendo crimes internacionais. E ele é laureado com o Nobel da Paz.

E nós todos perdemos. Perdemos (pelo menos) desde 2001. Perdemos com os outros atentados da Al Qaeda, perdermos com a nova política intervencionista estadunidense, agora com álibi, perdemos com um mundo onde a força não enxerga soberanias, fronteiras ou direitos. E nada disto, da caçada, das guerras, das violações estatais, fizeram do mundo um lugar mais seguro. E nem a morte da Bin Laden fará. Enquanto as causas não forem combatidas, continuaremos a sofrer os efeitos.

Parabéns aos falcões, aos neo-cons, congratulações para Bush Filho. Conseguiram moldar o mundo como sempre quiseram. Eles foram os grandes vencedores com a paranoia que tomou conta do mundo. O mesmo sonho e desejo de Bin Laden.

E ao vencedor… as batatas!

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