Walter Hupselqui/S.Alcantara, 28 de abr de 2011 20:49 GMT+00:00
A história se repete: o filho do príncipe Charles, que casou com Lady Di – uma pessoa de fora da realeza (como me lembrou Antônio Luiz Costa) – no tal casamento do século, que acabou em traições e na trágica morte da princesa num túnel em Paris, William, se casou também com uma plebeia, e também no “casamento do século”.
A imprensa não fala de outra coisa, analisa os vestidos, o menu, a lista de convidados, a lista dos não-convidados. Fala também de custos da festança e do impacto econômico que o casamento terá. A Inglaterra foi tomada por uma epifania real-nacionalista. Todos, ou quase todos, esperando o grande momento de ter uma nova sucessora ao cargo de Elisabeth 2ª, Kate, para poderem cantar o hino britânico, “Deus Salve a Rainha” (God Save the Queen).
É a imagem, o símbolo. A monarquia britânica, desde quando Guilherme de Orange desembarcou em solo inglês vindo da Holanda, e destronou James 2º, a Inglaterra adotou uma forma esquisita de governo, uma forma mista, a monarquia parlamentar na qual a ‘Rainha reina, mas não governa”.
A despeito de ter sido uma saída estratégica numa Inglaterra que passava por um século de convulsões e guerras civis, os mais otimistas hoje apontam para o caráter simbólico da monarquia britânica, em que a Rainha seria, digamos assim, uma entidade que mantém unidos os diversos países que compõem a Grã-Bretanha, os menos crédulos chamam atenção para o anacronismo de se manter uma realeza que faça alguns banquetes e cace raposas. Para estes uma sociedade moderna e democrática teria que prescindir de qualquer titulo nobiliárquico (o senado inglês é, até hoje, chamado de “Casa dos Lordes”), de qualquer menção a súditos. Sim, na Inglaterra existem súditos do rei e não cidadãos.
Para quem se não lembra, aqui mesmo no Brasil tivemos um plebiscito em 1993 (que tinha sido previsto pela Constituição de 1988), no qual o povo deveria decidir sobre monarquia ou república parlamentarista ou presidencialista.
Ao lado da monarquia, estiveram figuras públicas como Hugo Carvana, Sandra de Sá e o antropólogo Roberto da Matta. Este justificava sua opção pela restauração da monarquia dizendo que o brasileiro a adora e, como explicação para sua posição, citava a forma que nos referimos ao “Rei” Roberto Carlos, “Rainha” Xuxa e “Rei” Pelé (?!?!?) . Segundo Da Matta, este era um sinal claro que somos órfãos de Orleans e Bragança e como somos.
Malograda a opção de termos nossa própria dinastia, de termos nossos casamentos suntuosos em Petrópolis, voltamos os olhos pra a velha Inglaterra. Sublimamos nossa vidinha republicana(regime que começou falido e continua sendo só não vê quem não quer), olhamos com uma certa aura para esse casamento, da Família Real mais cara da Europa. Para a mulher, plebéia, que encarnará novamente o arquétipo feminino dos contos de fada, e casará com um príncipe.
Agora, ela terá a obrigação de gerar um herdeiro para os Windsor (e rápido, segundo manda a tradição), um novo futuro rei que também se casará no “casamento do século”, que também deve atrair a atenção mundial. Ela, a futura princesa e rainha, será um símbolo da Inglaterra e da submissão feminina. Apenas uma figura.
A ela meus mais sinceros desejos de boa sorte. Para ela, e para todos os ingleses, mando um “Deus Salve a Rainha”, mas na voz de Johnny Rotten.
God save the queen
She ain't no human being
There is no future
In England's dreaming
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