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quinta-feira, março 24, 2011

A cor violeta ( veja Cleopatra - Trailer -o filme)


Olhos de Liz Taylor marcaram a história de Hollywood e construíram o mito

24 de março de 2011 | 0h 00

Luiz Carlos Merten/ S.Alcantara

Assim como existe um antes e depois de Cleópatra, a versão com Elizabeth Taylor, na história de Hollywood, há um antes e depois de Quem Tem Medo de Virginia Woolf? na trajetória da própria Liz. Ela já havia recebido seu primeiro Oscar (por Disque Butterfield 8) e instituíra o patamar de US$ 1 milhão por filme quando foi contratada por Mike Nichols para fazer a adaptação da peça de Edward Albee (que lhe deu seu segundo prêmio da Academia de Hollywood). Para fazer Martha, a anti-heroína de Albee, com convicção, Liz engordou, desglamourizou-se ao extremo. Perdeu a forma e nunca mais a encontrou. Entre dietas, internações hospitalares e cirurgias, muito pontualmente ela reencontrou, ou pelo menos chegou perto da antiga silhueta. Aos 44 anos (nasceu em 1932), a Liz Taylor de Virginia Woolf projetava o retrato de uma mulher acabada. Ela continuou vivendo com intensidade, mas o tempo em que era considerada a mais bela mulher do mundo havia passado. Restaram os olhos cor de violeta. Eles estão na origem do mito.

Nascida na Inglaterra, Liz tinha 8 anos quando a família se mudou para os EUA e se estabeleceu em Pasadena, na Califórnia. Ali, a garota foi descoberta por um caçador de talentos da empresa Metro. Aos 11 anos, ela fez o primeiro filme - A Força do Coração, de Fred Wilcox -, mas os olhos do público estavam voltados para a protagonista da história, a cachorra Lassie. No ano seguinte, em A Mocidade É Assim Mesmo, de Clarence Brown, era Liz, aos 12 anos, quem capturava o olhar, como a garota decidida a transformar seu pônei em campeão.

Desde então, não parou de filmar - dramalhões (Jane Eyre), comédias (O Pai da Noiva). No começo dos anos 1950, Liz não aguentava mais ser controlada pela mãe - uma peste autoritária chamada Sara Taylor - nem pelos executivos da Metro, que decidiam todos os seus passos. Para se libertar, casou-se com o primeiro "partido". A união com o herdeiro da cadeia Hilton, mimado como ela, durou seis meses. A alegação para o divórcio foi crueldade física e mental. Em bom português, a jovem Liz cansou-se da violência doméstica. Apanhava dia sim, dia não.

Nos anos e décadas seguintes, ela se casou muitas vezes - Michael Wilding, Mike Todd, Richard Burton... A imprensa conservadora da época a demonizou como destruidora de lares. Viúva do produtor Mike Todd, Liz consolou-se nos braços de Eddie Fisher, marido de sua amiga Debbie Reynolds. Casou-se com Fisher, mas não houve tempo de esquentar o leito nupcial, porque o furacão Richard Burton entrou em sua vida. Liz, que já misturava vida pública e privada, virou o assunto preferido da mídia. Flagrantes do adultério eram disputadíssimos e valiam ouro. Mal comparando, Liz e Burton foram o casal Brangelina (Brad Pitt e Angelina Jolie) da década de 1960. Não faltou nem a Jennifer Aniston da dupla - que tanto poderia ser Debbie Reynolds quanto Sybill Burton, a mulher que Richard abandonou.

Bebedeiras e diamantes marcaram a ligação tumultuada com Burton. Tantas fofocas quase fazem esquecer os grandes filmes que Liz protagonizou - Um Lugar ao Sol e Assim Caminha a Humanidade, de George Stevens; Gata em Teto de Zinco Quente, de Richard Brooks; De Repente, no Último Verão e (por que não?), Cleópatra, de Joseph L. Mankiewicz; Adeus às Ilusões, de Vincente Minnelli; Cerimônia Secreta, de Joseph Losey; O Pecado de Todos Nós, de John Huston. Através de todos eles ela esculpiu uma persona cada vez mais densa - e até trágica. Tornou-se uma verdadeira (e grande) atriz.

O beijo com Montgomery Clift, aquela lenta sucessão de closes em Um Lugar ao Sol; a lingerie de Maggie, a gata; o maiô branco de Catherine (em De Repente, no Último Verão); a entrada triunfal de Cleópatra em Roma. Cada espectador haverá de recuperar na lembrança a "sua" Liz. Por que não a jovem Rebecca de Ivanhoé, de Richard Thorpe, ao lado do cavaleiro Robert Taylor (de quem não era parente)? A romântica Helen de A Última Vez Que Vi Paris, que Richards Brooks adaptou de Scott Fitzgerald, ou a indomável Catarina de Franco Zeffirelli em A Megera Domada, baseado na peça de Shakespeare?

Liz viveu como quis, sem ligar para as consequências. Essa coragem (audácia?) a fez solidária com os amigos gays, Monty Clift e Rock Hudson, que não saíram do armário numa Hollywood que cobrava deles a manutenção da imagem de galãs (senão machos). Ela festejou 65 anos ou 70 na Disneylândia, ao lado de outro amigo que também esculpiu para si (e de si) uma imagem sonhada - Michael Jackson. Uma vida de excessos, sem dúvida. De tenacidade e luta (pela própria vida), também.

Liz será enterrada no WestWood Village Memorial Park, de Los Angeles, onde já repousam os restos de Marilyn Monroe e Natalie Wood.

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