Sex, 18 Fev, 10h05
César Muñoz Acebes.
Quito, 17 fev (EFE).- Os genes de um grupo de equatorianos de baixa estatura que não sofrem de câncer ou diabetes abrem novas vias de tratamento para pessoas que têm essas doenças, disse à Agência Efe Jaime Guevara Aguirre, o principal responsável pela descoberta.
O médico equatoriano estuda desde 1987 um grupo de 100 pessoas de entre 1,15 metro e 1,25 metro de altura originárias de regiões do sul do Equador e que têm uma mutação genética que impede seu crescimento.
Com a passagem dos anos, Aguirre percebeu que, mesmo sendo obesas, as pessoas pertencentes a esse grupo não desenvolviam diabetes e nem morriam de câncer. Em todos esses anos, uma delas chegou a desenvolver um tumor, mas conseguiu se curar.
A descoberta, divulgada na quarta-feira em artigo escrito em colaboração com Valter Longo, da Universidade do Sul da Califórnia, para uma revista científica americana, poderia passar em breve do terreno científico para a prática.
Longo pretende solicitar ao Governo americano o uso de medicamentos que bloqueiem o crescimento de pacientes que sofrem de câncer.
Aguirre disse que ele provavelmente fará estudos sobre essa possível aplicação para a Universidade do Sul da Califórnia em um hospital da Sociedade da Luta contra o Câncer (Solca) do Equador.
"A única coisa que me interessaria saber é que essas pessoas que estão sofrendo têm a possibilidade" de ter um tratamento mais efetivo, disse Guevara Aguirre, quem ressaltou que um efeito colateral provável dessa alternativa seria o aumento do colesterol.
A chave para o sucesso do tratamento está no organismo de pessoas como Luis Sánchez, um homem de 42 anos que tem a altura de uma criança e que colabora com Aguirre há duas décadas.
Sánchez, filho de pais altos mas que eram portadores da mutação, cooperou com o médico por altruísmo, assim como os outros pacientes, com o desejo de que as pesquisas dessem esperanças à próxima geração.
"Com os estudos realizados em nós (...) há a oportunidade de se descobrir algo que possa ajudar as crianças", disse Sánchez à Agência Efe.
No Equador, há cerca de 100 pessoas com a doença, conhecida como síndrome de Laron, enquanto no mundo todo há apenas 300.
Em uma pessoa normal, o hormônio do crescimento chega a um receptor no fígado e se forma um composto chamado IGF-1, que faz os tecidos e os ossos crescerem.
Os que sofrem dessa síndrome têm uma deficiência do receptor que faz com que se gere um baixo nível de IFG-1. Mas, o estudo indicou que, ao mesmo tempo, essas pessoas "não se têm câncer", enquanto seus parentes que não sofrem da síndrome desenvolvem a doença.
Em teoria, se medicamentos já existentes forem usados para bloquear esse receptor em um adulto, que não necessita crescer mais, seria possível lutar contra o câncer, afirmou Aguirre.
O médico não tinha essa ideia em mente quando iniciou suas pesquisas há 24 anos em pequenos povoados das províncias de Loja e El Oro com dinheiro doado por seu pai, mas se interessou pela prevalência da obesidade entre os pacientes com a síndrome de Laron.
Com a passagem dos anos, descobriu como tratá-los e realizou "os melhores estudos de crescimento no mundo", disse.
Ele administrou hormônios doados por uma companhia farmacêutica durante dois anos, mas parou quando estes acabaram.
A empresa continuou tratando os pacientes da síndrome na Europa e nos Estados Unidos, mas não os equatorianos, disse Aguirre, quem acrescentou que nunca recebeu apoio do Governo do Equador.
Com o hormônio, agora fabricado pela companhia francesa Ipsen, os equatorianos que sofrem da síndrome poderiam crescer até 1,4 metro, uma altura que os permitiria integrar-se mais facilmente no Equador, onde as pessoas, em geral, são baixas.
"Estes pacientes deram muito durante os últimos 20 anos: deram sua dor, seu sangue e sua cooperação", disse o médico.
Para o mundo, esses 100 equatorianos oferecem a oportunidade de se combater doenças fatais. EFE
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